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VIAS DE PÂNICO

As ruas fazem a cidade. Sejam longas, curtas, com ou sem trânsito, essas vias figuram no cenário das metrópoles e formam os caminhos de quem vive nos centros urbanos. São as linhas feitas de asfalto que contornam a pressa e desenham o clichê do cotidiano de qualquer capital.

A pressa para chegar aos locais de estudo, trabalho ou lazer requer que Cláudia enxergue o caminhar como opção improvável para ir de um canto a outro na cidade. Ela, então, busca no horizonte sem fim das longas avenidas uma luz para chegar aonde precisa.

A primeira saída corre em direção à mulher como uma resposta pronta para acabar com qualquer dúvida. O ônibus e suas portas abertas representam uma chance para o encurtamento da distância entre Cláudia e o seu destino na capital.

É pela questão do tempo e da economia que Cláudia procura o transporte público para se locomover. Uma jornada cansativa por entre vários bairros pode ser, então, reduzida a uma viagem com pessoas que compartilham tanto os hábitos quanto os sentimentos.

No entanto, essa escolha diária está além da ficção para muitos habitantes de Fortaleza. Os veículos azuis pintam a rotina diária da vendedora Cleane Pereira até o trabalho, pois outro meio de transporte "não cabe no orçamento”. O trajeto, do bairro Messejana até o Centro da cidade, dura mais de 40 minutos, tempo suficiente para o crescimento da tensão e do medo de assaltos. Os sentimentos de pavor têm raízes em uma experiência traumática, sempre difícil de ser lembrada em detalhes. “Dois moleques entraram no ônibus e fizeram arrastão no pessoal, levando as coisas de todos”. Embora a lembrança seja turva, o sentimento do perigo sofrido permanece: o medo a acompanha a cada viagem pelas ruas.

 

Bia Rocha tem uma rotina parecida. Com uma bolsa pequena e o uniforme da firma, pega sempre os mesmos ônibus para chegar ao trabalho, em uma empresa de telemarketing, e voltar para casa. O motivo para a utilização desse tipo de transporte público é simples: “tem um custo menor”, o que não paga a sensação de seguridade  “você pode ser assaltado, então não passa tanta segurança assim”. Um suspiro triste acompanha o pensamento, baseado em um momento de horror: ela já foi assaltada dentro do coletivo sob a mira de assaltantes armados com uma faca. Por causa disso, “o medo de assalto é constante”.

 

Entretanto, os momentos de perigo não acometem apenas quem já foi vítima de ações criminosas. Com 29 anos, Washington Ricardo nunca foi assaltado, mas carrega consigo o medo de passar por essa situação. No caminho dele, de Caucaia até Fortaleza, os materiais da faculdade e do trabalho de auxiliar administrativo ficam escondidos em uma mochila azul escura. O medo, por sua vez, fica guardado no peito, pois o perigo já é visto como “comum” na capital da terra da luz. “Você já tá tão acostumado com essa rotina de assaltos na cidade, que, qualquer pessoa que entra no ônibus, você já fica observando, de tão perigoso”. A observação habitual dos passageiros parece ser comum a qualquer pessoa usuária dos coletivos – como no caso da promotora de vendas Cristian Oliveira.

Manual de sobrevivência

Como qualquer bom soldado faria em terreno hostil, cada um desses cearenses lança mão de um conjunto de táticas para combater as possibilidades de assalto em ônibus e conter o temor a cada expedição pela cidade. Sempre pronta para as lutas contra o medo, Cleane faz das próprias roupas uma armadura frente aos ataques dos assaltantes. “Boto as coisas mais importantes no bolso e pronto”. Apesar de simples, o cuidado proporciona uma boa salvaguarda  junta proteção e camuflagem em uma só ação.

 

Mesmo com uma estratégia parecida com a de Cleane, Bia segue normas mais frias e calculadas: não sai com nada além do básico. A bolsinha traz em si apenas dinheiro para pequenos gastos e maquiagem, essenciais para o percurso que a leva até o Centro da cidade. A marcha diária, então, é apoiada na cara e na passagem, suficientes para um trajeto seguro. Mas, quando necessita portar algo além, o plano muda e a ocultação de outros itens entra novamente em cena. “Tento esconder de alguma forma, em algum local”.

 

Apesar de nunca ter enfrentado qualquer ameaça, Washington sempre toma algumas atitudes para não dormir no ponto. “Eu observo muito os lados, toda hora estou observando”. A prática acaba virando parte do instinto, que conta com um repertório de outras técnicas para a fuga do status de vítima. “Procuro andar com menos coisas, celular escondido e não levar dinheiro”. Embora atente para esses hábitos, um objeto ainda fica sob os olhares ameaçadores: a mochila. Grande demais para esconder e fundamental no dia a dia, a bagagem motiva outro movimento: ele busca fugir do ônibus logo quando nota alguma atividade suspeita.

 

Embora não sejam as táticas mais eficazes contra os riscos, ações como essas são algumas das maneiras de obter mais proteção nos trajetos coletivos pelas ruas da capital. Cleane é crítica e realista: “chega um ponto em que não tem mais o que se fazer, pois não tem como ter policial dentro do transporte público”. Em contrapartida, Bia vislumbra uma solução mais radical para escapar do perigo dos desconhecidos: a compra de um automóvel, mais vantajoso na segurança.


No entanto, o custo de um veículo particular pode ser um obstáculo considerável no orçamento: o salário, às vezes, é até inacessível para outros meios de transporte. Por essa opção ser ausente na rotina de Washington, ele recorre a outra escolha, sempre que possível: o táxi. “Tem a questão do preço, que é caro, então fica como penúltima ou última alternativa”.

Decidida a andar sozinha, Cláudia procura por um transporte que possa utilizar com rapidez e sem muitos custos. A resposta é um sinal verde para a escolha de outra opção: o Bicicletar, iniciativa público-privada existente em Fortaleza acessível por meio do vale-transporte eletrônico.

Cláudia percebe que a violência pode tomar outras formas quando mais reservada. Esse pensamento a motiva a tomar uma atitude: o melhor modo de se resguardar seria não depender de ninguém para acompanhá-la ao seu destino. Mas ela ainda precisaria chegar até ele.

Com a bicicleta, os perigos de ataques parecem se reduzir. Cláudia tem a liberdade e a responsabilidade de conduzir a si mesma e construir seu próprio caminho – uma alternativa na qual ela mesma seria a responsável por si. Mas cruzar a rua é o suficiente para a certeza desaparecer frente à realidade que estaria por vir.

A relação entre a bicicleta e o estudante Davi Bessa, 19 anos, começou no cursinho. O primeiro encontro ocorreu quando fizeram uma estação do Bicicletar em frente à instituição em que ele estudava. “Eu tenho Bilhete Único, eu posso me cadastrar e fazer” foi o pensamento do estudante antes da primeira vez. A bike, então, passou a acompanhá-lo até na academia, tornando-se o seu meio de transporte preferido.

Já o caso de Marisângela Ribeiro e do modal é um pouco mais madura e profissional. Ela chegou a andar em outros meios, mas a relação não foi das melhores. “O carro eu deixei pela economia; de ônibus, era um sufoco”. Após passar por esses problemas, o encontro com a bicicleta foi a melhor solução: o caminho da casa, na Parquelândia, até o trabalho de análise de sistemas, no Centro, foi reduzido a 15 ou 20 minutos. A economia de tempo foi tanta que Marisângela decidiu oficializar a parceria e comprar a própria bike as do Bicicletar não foram “boas experiências”.

A relação entre os dois usuários e a bicicleta é bem íntima: todos se encontram cerca de quatro vezes na semana, nos momentos de locomoção. Mas, mesmo com a familiaridade, a rotina é preenchida com alguns desafios. O medo frequente de sofrer um acidente é a explicação de Davi sobre algumas tensões durante o uso da bike, pois “isso sempre acontece”. Marisângela também se sente prejudicada, principalmente “por obedecer tudo direitinho”. Embora as pedaladas já sejam habituais na cidade, alguns percursos podem ser complicados até para quem tem uma experiência ainda maior.

Felipe Alves e a bike, por exemplo, têm uma relação intensa e de longa data. Os dois dividem caminhos desde quando ele morava em outra cidade. Felipe se mudou para Fortaleza em 2011 e, apenas um ano depois, voltou a andar sobre duas rodas pelas ruas. A ligação entre os dois é tão grande que ele já chegou a não querer usar mais outros pedais: já pensou até em largar o carro de vez e não renovar a habilitação. Isso porque existe uma “lista de vantagens” que permeiam os seus caminhos da Aldeota ao Pici, onde faz mestrado, ou a qualquer outro lugar à noite e nos fins de semana. “Existem inúmeros motivos, mas acho que os principais são economia de tempo e dinheiro”.

O traquejo de Felipe com a bicicleta é vigoroso, por isso ele não vê muitos problemas mesmo em vias sem ciclofaixas ou ciclovias. O respeito e a estrutura estão longe do ideal, fato que já o fez testemunhar alguns acidentes leves, como outros ciclistas caindo por causa de buracos na rua. Para se sentir protegido, a escolha se dá na procura de vias com menos ônibus ou na tomada de precauções para se locomover com mais cuidado – atitudes comuns para outros usuários.

Davi escolhe, por exemplo, trafegar pela contramão. Essa tática é utilizada por ele porque, “às vezes, você vai fazer uma curva e eles buzinam, quase encostam”, até mesmo em semáforos. O medo do estudante é diminuído por essa opção de tráfego, realizada junto ao meio-fio. “Você, na contramão, vai ver os carros que estão vindo, então essa é a vantagem”. No entanto, por essa iniciativa poder afetar diretamente os pedestres, que correm o risco de ser acidentados pela bicicleta, a opção não ocorre sempre. “Se tem ciclofaixa, eu vou nela”, justamente para evitar certos acontecimentos.

Mesmo com as vias específicas, Marisângela vê o desrespeito durante a rotina. “Já vi muito motoqueiro trafegando nas ciclofaixas”, o que seria o “grande problema” normalmente visto na infraestrutura. Além disso, em alguns pontos, as dificuldades são outras. “Na ciclovia da avenida Bezerra de Menezes, o problema maior são os pedestres. Chamamos de ‘paredão’: ficam uns ao lado dos outros fechando as passagens, normalmente em grupos de caminhada”, fator que atrapalha o ritmo da condução. Quando se depara com casos como esse, ela usa um apito, que funciona como buzina para pedir passagem. 

O objeto também é utilizado nas ruas, junto a equipamentos de segurança como luvas, piscadores e capacete. No entanto, Marisângela utiliza um aparato além desse tipo de item: o mapa cicloviário de Fortaleza. Com formato colaborativo, esse mapeamento pode ser utilizado por ciclistas de toda a cidade com o intuito de traçar rotas com oficinas e vias mais seguras para a locomoção.

“Sempre que preciso fazer um trajeto, eu pesquiso por onde eu posso ir, pegando mais ciclovias ou faixas”. Por causa dessas facilidades, Marisângela entende o sistema como “mais ou menos” parecido com as ciclorrotas, infraestrutura cicloviária já existente em Fortaleza desde

outubro de 2016.

Um pouco pensativa, Cláudia relembra toda a viagem. Decidida a não se abater pelas possibilidades do medo, ela o deixava para trás à medida que dava um novo passo. A noite, então, seria iluminada pelas luzes dos postes e por um espírito cheio de coragem.

Embora as quatro experiências sejam diferentes, a moral da história parece ser a mesma em todos os casos: o perigo é iminente. Além de desconfiar de tudo e de todos, Cleane tem uma sugestão, firmada em sua própria vida: “você tem que encarar”, pois a coragem é “uma coisa que se tem que fazer todo dia”. “Não tem como andar sem celular, não tem como andar sem meus pertences. Eu tenho que enfrentar”. Com a mesma bravura de quem não pode se deixar abalar pelo medo, Bia resiste intrépida: decidida a bater de frente com o receio, ela adota práticas para uma jornada destemida dia após dia dentro dos coletivos. “O que você faz é se precaver pra não acontecer com você”.

O ano de 2015 reservou vários momentos de pânico aos fortalezenses: foram registrados 1.628 assaltos a ônibus na cidade, o que equivale a quatro ocorrências por dia. A tensão sobre o fato se converte em uma atitude: a saída do transporte em busca de uma alternativa que leve Cláudia ao mesmo local.

Depois de o ônibus dar partida, Cláudia parece não ter com o que se preocupar. Ela já não precisa lidar com a possibilidade de estranhos a atacarem enquanto usa um meio de transporte. Mas a rapidez da rotina pede a escolha de uma nova opção.

O uso do táxi é, supostamente, mais seguro para ela. As perspectivas de percorrer rotas alternativas aos fluxos congestionados e não encarar vários desconhecidos são percebidas como uma garantia de controle de tempo e proteção.

Sentada no banco de trás do veículo, Cláudia respira aliviada – não é mais preciso fitar várias expressões alheias em busca de um pouco de conforto. No entanto, o olhar do motorista é ameaçador: a violência pode tomar forma em outro tipo de ataque.

Trocar o ônibus pelo táxi em busca de mais segurança não foi apenas escolha de Cláudia. Andréa também a fez. A enfermeira de 30 anos parou de andar de ônibus devido a assaltos e adotou o táxi como principal meio de transporte por conta de plantões frequentes. A opção trazia a comodidade e a sensação de segurança à rotina – pelo menos até um dia incomum a caminho do local de trabalho. Ali ela percebeu que o medo poderia estar ao volante.

Assim como Cláudia e Andréa, Fathima Lopes opta por usar o táxi em algumas ocasiões. Foi quando resolveu pedir um para se deslocar de uma reunião de trabalho para outra. O pedido foi feito por meio de uma cooperativa que até então ela julgava segura pelo fato de fornecerem os dados do veículo e do condutor.

 

Fathima entrou no táxi, fechou a porta e a primeira frase pronunciada pelo motorista foi "como a senhora é cheirosa". "Aquilo já me colocou em alerta. Imediatamente eu puxei a bolsa, peguei meu celular, liguei pro meu namorado pra fingir que estava conversando com ele."

 

Ao encerrar a ligação, Fathima foi surpreendida com mais frases que a invadiam e a intimidavam. "Ele continuou falando. Falava como eu era bonita. Ele repetiu diversas vezes o quão eu era cheirosa. E aquilo foi me deixando mais nervosa".

 

Ao final do percurso – que não era longo, mas pareceu interminável –, ela estava aliviada por poder descer do táxi, mas o abuso não acabaria ali. O taxista entregou um cartão pessoal com contatos dele. "Isso aqui é pra quando a senhora precisar de táxi ou pra alguma outra coisa que a senhora queira, porque a senhora é muito bonita". Fathima já não sabia mais como reagir.

 

Ao contrário dela, Isabela Teodosio seguiu seus instintos. Ela e uma amiga voltavam do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em direção às suas casas. A amiga seria a primeira a ser deixada; Isabela, em seguida. Antes de entrarem no táxi, combinaram o preço da corrida com o taxista R$ 50.

 

Ao chegarem no primeiro destino, ambas se deram conta de terem apenas 47 reais consigo, o que motivou a barganha por um pequeno desconto. Isabela perguntou ao taxista se havia algum problema – caso ele se incomodasse, poderia dormir na casa da amiga. Ele disse para ela não se preocupar, pois poderiam seguir caminho. Mas agora só estariam ele e Isabela no veículo.

 

Fim de linha. Ele havia parado em frente à casa de Isabela. "Ele falou 'pois vem cá' e bateu a mão no banco do passageiro como se tivesse me chamando pra sentar do lado dele. Eu, com muito medo, sorri pra ele, pra ele não travar o carro, e saí bem devagar pra ele pensar que eu ia entrar na frente. Porém, eu peguei a chave, abri o portão bem rápido e entrei em casa".

 

Joana Sales (nome fictício) também já teve de correr. Ela havia saído com as amigas para um bar no bairro Benfica, como era de costume. Sempre que ia, voltava de táxi para casa – ritual costumeiro dos fins de semana. Até que um acontecimento mudou os seus hábitos, deixando más recordações. "Eu me tremo só de lembrar".

 

"Teve um dia em que eu passei do limite, bebi um pouco a mais. Eu tava bem 'grogue' mesmo." As amigas de Joana chamaram um táxi que passava na rua e a colocaram dentro sob um sinal de alerta para o motorista: "deixa ela lá, mas espera ela entrar em casa porque ela mora só e tá muito bêbada. É arriscado ela ficar na rua".

 

O táxi seguiu caminho. O motorista começou a balbuciar certas palavras que Joana ouvia distante devido aos efeitos do álcool. Foi assim por um tempo. Até o momento em que o taxista sacou uma arma. "Quando eu vi a arma, foi como se aquele porre tivesse passado imediatamente".  

 

"Você tá se fazendo de doida ou você tá realmente muito bêbada?" Foram as palavras dele com arma em punho. Joana estava atordoada sem conseguir entender quais eram as intenções. Mas logo tudo ficou claro. "Ele falando que queria me levar pro motel, que queria me levar pra um lugar, que eu ia gostar, que ele ia fazer gostoso..."

 

O desespero a tomou por completo. Foi quando ela lembrou de um relato que ouvira em uma reunião do coletivo feminista do qual fazia parte. Uma companheira, integrante do mesmo coletivo, havia contado que, certa vez, conseguiu escapar de uma situação de assédio fingindo "entrar na onda do cara". Joana não pensou duas vezes.

 

"Eu disse “qual é, meu irmão, tu não precisa de uma arma pra comer uma mulher não. Eu também to a fim, tu já tem um canto? Se não tiver tem a minha casa”. Porque eu fiquei pensando assim, na hora que parar lá em casa eu desço e saio correndo. Eu conheço a vizinhança... Eu fiquei pensando que na minha casa eu poderia escapar dele".

 

Joana o convenceu, mesmo trêmula. Ela conhecia o caminho e sabia que um pouco mais a frente havia um posto de gasolina. "Eu vou me salvar no posto", pensou. Rapidamente traçou um plano para fazê-lo parar no posto. "Cara, eu não tenho bebida lá em casa, tu não tá a fim de tomar alguma coisa? A gente para no posto pra eu comprar umas bebidas, daí a gente leva lá pra casa. Tomar umas cervejas porque eu quero beber mais."

 

Ele hesitou, mas acabou cedendo, pois parecia acreditar nela. Ao parar na frente do posto, porém do outro lado da avenida, Joana desceu calmamente, deixou a bolsa no carro para não levantar suspeitas e só correu quando já estava no meio da rua. Seguiu em direção à viatura da polícia lá estacionada. O taxista arrancou. O turbilhão de emoções tomou conta de Joana. Uma sensação de medo, de vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, um alívio sem igual.

 

Ela se sentiu amparada pelos policiais até o momento em que eles disseram que a culpa era dela. "Porque eu tava bêbada e uma mulher bêbada não pode andar sozinha à noite. Que não sabe nem como que eu me salvei. Eu fiquei mais humilhada pelos policiais do que pelo cara que queria me invadir, me possuir”.

 

Andréa, Fathima, Isabela e Joana continuam utilizando os meios de transporte que necessitam, mesmo com receio. O medo as fez adotar algumas táticas com o intuito de se previnirem e se protegerem. Andréa, sempre que pega um táxi, envia mensagens para amigos e familiares com o número da placa do veículo. Já Fathima, liga para o namorado e conversa com ele durante todo o percurso. Assim, se algo acontecer, ele saberá. Além disso, elas buscam pedir o serviço por aplicativos, pois acreditam que, dessa forma, estão um pouco mais resguardadas.

Reportagem
Isabela Arrais
Marcelo Monteiro

Fotonovela

Ana Beatriz Leite

Isabela Arrais
Marcelo Monteiro

Modelos
João Victor Soares
Joyce Monteiro

Felipe percebe a ciclofaixa como uma alternativa impossível de ser implantada em toda a cidade. O senso sobre a realidade é o motivo do ciclista considerar a ciclorrota como uma “solução” para casos específicos. “Tem que ter cuidado com todos os tipos de vias; não pode querer que os ciclistas compartilhem vias de 60 km/h”.

O pensamento de que as velocidades máximas precisam ser discutidas é razão de críticas para Marisângela. “Muitas dessas melhorias só são feitas para turistas. Com certeza aconteceriam bem ali para o lado da Beira Mar e Aldeota”. Um pouco cética quanto às possibilidades da bike na cidade, ela, no entanto, mantém-se esperançosa. “Tenho acompanhado muita gente trocar carro por bicicleta, isso iria incentivar ainda mais muita gente que ainda não sente segurança”.

Inspirada em um modelo americano de mobilidade, as ciclorrotas demarcam vias preferenciais para uso dos ciclistas. Elas nem sempre têm ciclofaixas, ciclovias ou a velocidade média reduzida, mas a sinalização é, além de característica, um diferencial: placas representam a possibilidade de um trajeto mais tranquilo sobre duas rodas. Dessa forma, os locais sinalizados indicam a presença e preferência da bicicleta sobre outros veículos, instituindo o compartilhamento das vias e garantindo segurança de acordo com a legislação de trânsito.

Depois de realizar um trajeto entre os carros, motos e medos de acidentes, Cláudia devolve a bicicleta a outra estação. O som da conclusão do processo, porém, tem o poder de um choque de realidade: ela chegara ao seu destino e nada acontecera com ela. 

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