
Tratamento na rede pública
Victor Comenho
Clara de Castro
Maggie Paiva
Se o reconhecimento do Alzheimer como patologia é historicamente recente, o tratamento da doença no Brasil o é ainda mais. Até os dias de hoje, ainda há diversas falhas e o atendimento na rede pública deixa a desejar em muitos pontos. Mas existe quem faça a diferença. É o caso da doutora Helena Aires, geriatra, que representou um grande papel na história do tratamento do Alzheimer em território brasileiro.
Em 2002, juntamente a outros profissionais de saúde, Helena Aires incitou as coordenadorias regionais de saúde a realizarem um projeto de capacitação de profissionais para lidar com o atendimento ao idoso. Foi assim que nasceu o Programa de Atenção à Saúde do Idoso do Estado do Ceará. Esse esforço rendeu frutos: hoje, só no estado existem 5 mil profissionais com curso superior e 12 mil agentes de saúde preparados para lidar com os males do envelhecimento.
No mesmo ano, surgiu a PEC 249, que implantava os centros de referência no tratamento de Alzheimer no País. Era ano eleitoral. Os remédios vieram, mas o dinheiro para a construção dos centros não. Os centros ficaram apenas nas promessas. Os estados não arcaram com as construções, mas em todo o Brasil, algumas universidades se interessaram pelo projeto.
Helena Aires se articulou com o Dr. João Macedo, geriatra no Hospital Universitário Walter Cantídio, para levantar fundos e instalar um centro de referência no hospital da Universidade Federal do Ceará. Juntos, eles mobilizaram toda a equipe de médicos necessária para a implantação do centro e conseguiram do Estado a verba de R$ 60 mil. Hoje, o prédio destinado ao atendimento de idosos com Alzheimer no Hospital Walter Cantídio ainda está em construção.
Logo depois, em 2005, foi implantado o Ambulatório de Demência e Geriatria do Hospital Dr. César Cals. Na sequência, o Hospital da Messejana também solicitou a implantação de um centro, devido à grande demanda de pacientes idosos em atendimento no local. O último centro de referência em Fortaleza se encontra no Ambulatório de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza.
Hoje, todos os centros citados encontram-se em funcionamento. O Hospital Geral de Fortaleza atende, atualmente, cerca de 400 pacientes com diferentes tipos de demência. O encaminhamento pela rede pública municipal de saúde, porém, ainda acontece com certa demora.
Há muitos pacientes que recorrem ao tratamento na rede privada, indo à rede pública apenas para ter acesso aos medicamentos. Muitos também recorrem a clínicas particulares para receber o tratamento não-farmacológico, que pode ser uma terapia ocupacional, musicoterapia, fisioterapia, além de outras opções. Devido ao fato de o paciente com Alzheimer ser idoso, é comum que sofra também de outras doenças e precise de cuidados específicos, que se tornam ainda mais delicados quando ocorrem paralelamente ao tratamento da demência. Assim, há algumas opções de terapias alternativas disponíveis, embora praticamente só na rede privada; os profissionais de saúde concordam, em grande maioria, que essas terapias têm um importante efeito na desaceleração da doença, embora ainda não existam estudos suficientes comprovando sua eficácia.
Atividade física, uma dieta equilibrada e manter-se emocionalmente estável são algumas das recomendações de geriatras e neurologistas. É importante, de qualquer maneira, que junto ao tratamento haja o acolhimento e a atenção da família, tanto às necessidades do portador de Alzheimer como ao surgimento de novos sintomas que podem aparecer com o decorrer da doença. Carinho, além de tudo, é fundamental.
“O nosso grande problema é essa fila... Às vezes o paciente espera demais e nem precisava esperar. A culpa não é do médico... A culpa é do sistema que não está transferindo direito.” Dra. Helena Aires