
Esquecer
Carolina Gomes
Didio Theorga
Carolina Gomes
Didio Theorga
Larissa Feitosa
"es.que.cer
1 Deixar sair da memória, não se lembrar de. 2 Pôr de lado; desprezar.
(Dicionário Aurélio)”
Esquecer é um verbo constantemente relacionado à doença de Alzheimer, mas ela não se trata de um simples problema de memória. Para além disso, está mais para a luta diária por não esquecer.
A demência do tipo Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, que provoca a morte das células cerebrais devido à deposição de uma proteína chamada beta-amilóide, que se agrupa em placas entre as células nervosas, bloqueando as sinapses - a comunicação entre elas. Outro fator é a ocorrência dos chamados emaranhados neurofibrilares, que matam os neurônios por impedir o sistema de transporte de nutrientes e suprimentos entre as células nervosas.
Esses dois fatores resultam na redução do número de células nervosas (neurônios) e das ligações entre elas (sinapses), diminuindo progressivamente o volume cerebral. Parte dos sintomas da doença de Alzheimer são em decorrência da diminuição da quantidade de uma substância chamada acetilcolina, que é responsável por transmitir os impulsos nervosos dos neurônios para os músculos.
Por muito tempo chamada de esclerose ou caduquice, a doença de Alzheimer era considerada como parte do processo normal de envelhecimento, mas hoje sabe-se que se trata de uma patologia, que causa perda de funções cognitivas do corpo, como a memória, a orientação, a atenção e a linguagem.
Descrita pela primeira vez, em meados de 1906, pelo médico Alois Alzheimer, ela é progressiva e irreversível e está diretamente relacionada ao processo de envelhecimento. “Por volta dos 65 anos, a incidência é em torno de 4% . Quando chega na oitava década, depois dos 80 anos, a incidência é de 40%. Ou seja 40% dos idosos com mais de 80 anos podem vir a ter doença de Alzheimer”, afirma a médica Luciane Ponte, neuropsicóloga e vice-presidente da Associação Brasileira de Alzheimer no Ceará (ABRAZ-CE).
De acordo com o Relatório Mundial de Alzheimer de 2015, lançado em setembro, pela Alzheimer’s Desease International (ADI), estima-se que até agora 46,8 milhões de pessoas vivem com demência no mundo e que esse número será de 74,7 milhões em 2030, com média de 9,9 milhões de novos casos por ano. No Brasil, esse número chega a 1,6 milhões de pessoas.
O envelhecimento populacional é um dos motivos que contribuem para o aumento de incidência das doenças crônico-degenerativas, que aparecem em idosos, crescimento que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, deve ser de até três vezes no País, em cerca de quatro décadas. Entre essas doenças está o Alzheimer, que corresponde a 70% dos diagnósticos de demência, sendo por isso mais frequente.
Pessoas que desenvolvem atividade intelectual e que tem alta escolaridade estão mais protegidas de desenvolver Alzheimer, pois quando acontece é mais tardiamente se comparado à ocorrência em indivíduos com menor atividade intelectual. Além disso, ter boa alimentação, praticar atividades físicas e participar de atividades sociais também são fatores de proteção. Já o consumo excessivo de álcool, o tabagismo, diabetes, colesterol alto e hipertensão são fatores de risco para desenvolver a enfermidade.
O Alzheimer também pode afetar pessoas mais jovens, em geral, na quinta década de vida, porém são casos raros de acontecer e geralmente se associam a padrões familiares.
SINTOMAS
À primeira suspeita de demência, deve-se procurar ajuda médica. Neuropsicólogos e geriatras são os especialistas que diagnosticam a doença. Alguns sintomas relacionados a perdas na capacidade cognitiva chamam a atenção das famílias para a possibilidade da presença da patologia, entre eles:
“As mulheres têm seis vezes mais chance de ter Alzheimer do que os homens. [A explicação científica para isso] Possivelmente deve ser a questão hormonal, porque, ao entrar na menopausa, o corpo sofre uma série de mudanças hormonais. Além disso, existem muito mais mulheres idosas que homens” Luciana Ponte
A Associação Brasileira de Alzheimer é uma entidade sem fins lucrativos, formada por profissionais da área da saúde, familiares e outras pessoas que se voluntariam a ajudar na causa. Presente nas cinco regiões do País, a associação busca informar e orientar a sociedade sobre o que é a doença e qual a melhor forma de conviver com ela. A regional Ceará surgiu em 1998.
Setembro é o mês mundial da doença de Alzheimer, e acontece em todo o mundo campanhas de conscientização da doença e de luta contra o preconceito.
A doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez em meados de 1906, quando o psiquiatra alemão Alois Alzheimer publicou o estudo de caso de uma paciente chamada Auguste Deter. A paciente tinha na época 51 anos e foi internada sob as queixas do marido de que ela desenvolvera comportamentos estranhos.
O psiquiatra alemão Emil Kraepelin, cinco anos depois, observou ocorrências de casos semelhantes ao de Auguste e descreveu a doença como condição autônoma, chamando-a de “doença descrita por Alzheimer”.
A partir daí, o diagnóstico de Alzheimer era reservado apenas para pessoas com idade até 65 anos, pois era considerada uma doença pré-senil. Só a partir dos anos 70 que Alzheimer começou a ser descrita como doença senil - depois dos 65 anos de idade.
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Perda de memória que afeta as relações pessoais - quando o esquecimento ocorre com mais frequência, sem que seja possível lembrar-se, por exemplo, de nomes e compromissos.
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Dificuldades em executar tarefas domésticas.
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Problemas com vocabulário - quando acontece o esquecimento de palavras comuns, podendo até ocorrer a substituição por outras inadequadas.
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Desorientação no tempo e espaço - quando ocorre a dificuldade para localizar-se dentro da própria casa, um determinado cômodo ou ainda localizar a própria casa na rua onde vive.
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Incapacidade para julgar situações - quando existe diminuição ou perda do senso crítico, levando a pessoa a ter comportamentos não usuais ou estranhos frente a outras.
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Problemas com raciocínio abstrato - quando existe, por exemplo, dificuldade em entender e controlar o próprio dinheiro.
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Colocar objetos em lugares errados - quando, por exemplo, a pessoa guarda o relógio no açucareiro.
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Mudança de humor ou comportamento - quando se observam comportamentos de calma seguidos de choro ou sinais de raiva sem razão aparente.
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Mudança de personalidade - quando, por exemplo, a pessoa demonstra medo, complexo de perseguição, desconfiança.
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Perda de iniciativa - quando a pessoa torna-se muito passiva, necessitando de estímulos para voltar a se envolver em alguma atividade.
Curatela é o encargo atribuído judicialmente a um adulto capaz, para que ele se responsabilize e administre os bens de pessoas consideradas incapazes, em razão de doenças ou acidente.
Pessoas com Alzheimer, muitas vezes, perdem a noção de valor do dinheiro e podem ser facilmente enganadas, por isso o pedido da curatela por algum familiar é importante para resguardar o idoso.
Saiba mais sobre curatela no Capítulo II, do Título IV, da lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
O QUE FAZER AO PERCEBER ALGUNS SINTOMAS?
Não existe exame que detecte que uma pessoa está com Alzheimer, é feito um diagnóstico clínico que une exames laboratoriais e de imagem e a avaliação neuropsicológica. Ela mapeia se o funcionamento cognitivo está dentro da faixa esperada para a idade ou não.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a procura por ajuda médica começa no posto de saúde. A partir daí, se o médico suspeitar que o diagnóstico é Alzheimer, o doente será encaminhado para um dos centros de referência de atendimento ao idoso em Fortaleza que são: o Hospital Universitário Walter Cantídio, o Hospital Geral Dr. César Cals, o Hospital de Saúde Mental de Messejana e o Hospital Geral de Fortaleza.
TRATAMENTO
Há tempos cientistas e pesquisadores tentam achar a cura para a Doença de Alzheimer, mas ainda não obtiveram sucesso. Apesar disso, existem vários tratamentos possíveis de serem adotados que ajudam a retardar e amenizar os sintomas da doença.
São conhecidos e aconselhados por médicos especialistas tanto os tratamentos farmacológicos, como os não farmacológicos. Ambos devem ser iniciados logo após o diagnóstico do paciente, ou seja, o quanto antes, isso contribuirá para um avanço mais ameno dos sintomas.
O diagnóstico precoce, feito ainda no início da doença, permite que os tratamentos sejam mais eficazes e melhorem a qualidade de vida do paciente.
O tratamento farmacológico é basicamente feito através de remédios que, apesar de não curarem a doença, ajudam o paciente em suas atividades do dia a dia e também com outros sintomas relacionados aos déficits cognitivos. A Portaria Nº 703 de 12 de abril de 2002, do Ministério da Saúde, salienta que o Sistema Único de Saúde é o responsável pelo diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes portadores da Doença de Alzheimer. Além disso, a portaria também obriga o SUS a estabelecer o protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas necessárias para o tratamento dos pacientes, incluindo a distribuição gratuita de medicamentos.
Os remédios distribuídos fazem parte de uma classe chamada de anticolinesterásicos. São eles a Rivastigmina, Donepezila e a Galantamina. Os três atuam de forma semelhante, melhorando a distribuição do neurotransmissor acetilcolina no cérebro do paciente. Cada medicamento pode ser aplicado de forma distinta (comprimido, líquido ou adesivo), cabendo ao médico responsável determinar o melhor para o paciente. Além desses três, é utilizado também no tratamento a Memantina, que possui um efeito diferente dos anteriormente citados, agindo em outro neurotransmissor, o glutamato. Com o déficit de acetilcolina, o cérebro começa a produzir mais glutamato para poder equilibrar-se, o problema é que o excesso de glutamato mata os neurônios, é aí que age a Memantina, mantendo um nível aceitável de glutamato no cérebro para frear a perda neuronal.
Durante o tratamento, quando a doença já está em um estágio mais avançado, os médicos recomendam aos pacientes o corte dos medicamentos, pois a produção da acetilcolina é tão baixa que não vai mais fazer efeito tentar equilibrá-la no cérebro.
Para os estágios iniciais do Alzheimer, um novo tipo de tratamento está começando a ser utilizado, é o Suvenaid. Os médicos ainda não o consideram como um medicamento, mas sim como um suporte nutricional, pois não atua diretamente contra o Alzheimer. Consiste em uma mistura de substâncias e alimentos que são benéficos para o cérebro, como ômega 3, ômega 6, antioxidantes, entre outros, melhorando as funções cognitivas dos pacientes.
Já o tratamento não farmacológico é feito através de diversos profissionais exercendo várias atividades diferentes com o paciente. Comprovadamente, esse tratamento também ajuda a retardar os efeitos da Doença de Alzheimer. As terapêuticas utilizadas são a reabilitação cognitiva, feita com os profissionais da terapia ocupacional. Os profissionais da fonoaudiologia trabalham com a comunicação e com a deglutição de alimentos, os fisioterapeutas trabalham a mobilidade, já os personal trainers trabalham a questão do condicionamento, tanto físico como cerebral, relacionando a atividade física com o aumento de sinapses e melhora da plasticidade do cérebro. Além deles, outros profissionais também são muito importantes para o retardamento da doença, como o próprio enfermeiro ou cuidador, que tende a dar um grande suporte ao fator mais importante de todos para o paciente, a afetividade.
Se sentir amado, se sentir importante ou até mesmo, por pouco que seja, sentir que faz parte de algo, é de suma importância para o retardamento dos sintomas do Alzheimer. Esses sentimentos vêm, na maioria das vezes, em relação a familiares, ou aquelas pessoas mais próximas, que fizeram parte da vida do paciente. O carinho e atenção dessas pessoas são comprovadamente algo benéfico, tanto para o paciente, como para quem está próximo deles.
Os diversos tratamentos disponíveis envolvem vários profissionais, como psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista, assistente social, fonoaudiólogo, cuidador, entre outros.